Depreciação e fluxo de caixa
Muitas pessoas que começam a estudar Contabilidade e Finanças têm dificuldade em assimilar a idéia da depreciação e como ela aparece no fluxo de caixa, já que é lançada no final com sinal positivo, como se fosse uma entrada de caixa. Tentarei esclarecer algo disso aqui.
Veja um exemplo de fluxo de caixa.
saldo inicial | 10.000,00 |
---|---|
(+) receita vendas | 80.000,00 |
(-) custo dos produtos | (40.000,00) |
(-) despesas | (30.000,00) |
(+) depreciação | 20.000,00 |
saldo final | 40.000,00 |
Para ilustrar, suponha que uma empresa fabricante de alimentos adquira uma nova máquina para embalar seus produtos por R$ 100.000,00.
Toda máquina tem uma vida útil e deixa de ser utilizada após um tempo, seja por desgaste pelo uso, ou por se tornar tecnologicamente obsoleta. A depreciação pode ser vista como uma forma de distribuir o custo da máquina ao longo de uma vida útil pré-determinada. Obviamente, quando se compra uma máquina, não se tem certeza do período de tempo durante o qual será usada. Ela pode quebrar após 2 anos de uso ou pode ser usada durante 30 anos ou mais.
A Legislação Tributária determina a vida útil a ser considerada para efeito de depreciação para os diversos tipos de bens (ativos). Máquinas de produção normalmente têm vida útil estipulada entre 5 e 10 anos. Vamos considerar no exemplo em questão que a vida útil seja de 5 anos.
Isso significa que a empresa poderá lançar a cada ano uma despesa de R$ 20.000,00 a título de depreciação (R$ 100.000,00 em 5 anos = R$ 20.000,00 por ano). Este é o sistema de depreciação linear, o mais comumente utilizado. Há outros sistemas em que o valor da despesa de depreciação não é constante ao longo da vida útil.
A empresa, portanto, lançará durante 5 anos uma despesa de R$ 20.000,00. Porém, a depreciação é uma despesa chamada não-desembolsável, porque a quantia referente não sai do caixa da empresa. Em nosso exemplo, a empresa pagou o valor da máquina no momento da compra (ela pode ter feito um financiamento, nesse caso o valor da máquina entra como dívida da empresa).
Vamos supor que o ano X acima seja o terceiro ano de utilização da máquina. A depreciação desse ano - no valor de R$ 20.000,00 - não saiu do caixa da empresa, mas sim saiu do caixa no momento da compra da máquina. A depreciação é lançada no grupo custo dos produtos ou no grupo despesas). Esse valor é então devolvido no fluxo de caixa, compensando a saída que não foi concreta.
As empresas apuram o lucro todo ano (através da DRE - Demonstração do Resultado do Exercício), e esse lucro apurado, entre outra funções, serve como base para o cálculo do IR e outros tributos, e também para a distribuição de lucros/dividendos para sócios/acionistas. Um dos principais efeitos da depreciação é diminuir o lucro apurado, fazendo com que a empresa pague menos tributos e distribua menos dividendos, com relação ao que faria se não houvesse a despesa de depreciação.
receita vendas | 80.000,00 |
---|---|
(-) custo dos produtos vendidos | (40.000,00) |
(-) despesas diversas | (10.000,00) |
(-) despesa depreciação | (20.000,00) |
lucro apurado | 10.000,00 |
A tabela acima mostra a DRE simplificada da empresa em questão, onde é possível ver que dentro das despesas de R$ 30.000,00 (mostradas no fluxo de caixa mais acima) há a despesa de depreciação no valor de R$20.000,00.
Do ponto de vista gerencial, o fluxo de caixa tem uma importância maior para as empresas, porque é ele que mostra efetivamente a situação financeira, se vai faltar dinheiro em determinado período e se será necessário um empréstimo de capital de giro, por exemplo. O que o fluxo de caixa faz, basicamente, é pegar a DRE e somar as despesas não-desembolsáveis, porque como vimos, nessas despesas o valor referente não é gasto. Por exemplo, no ano 5 a empresa lançará R$ 20.000,00 como despesa de depreciação. Esse dinheiro sairá do caixa da empresa? Não, a depreciação serve para distribuir o valor gasto no momento da compra ao longo da vida útil, por isso o fluxo de caixa "devolve" esse valor como se fosse entrada de caixa. A despesa de depreciação, que entra na DRE com sinal negativo, sai no fluxo de caixa com sinal positivo.
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